Novo tipo de computação usa "poeira mágica" de luz e matéria
Redação do Site Inovação Tecnológica -
A solução para o mínimo global aparece por fotoluminescência. [Imagem: Natalia Berloff/Universidade de Cambridge]
Melhor não duvidar
A professora russa Natalia Berloff, atualmente na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, tem um histórico de descobertas importantes, como quasipartículas que tornam a mecânica quântica visível a olho nu, além de ter ajudado a elucidar o mistério dos objetos tipo elétron não identificados.
Mas, há alguns anos, quando ela e seus colegas do Instituto Skolkovo de Ciência e Tecnologia da Rússia tentaram demonstrar que partículas quânticas poderiam ser usadas para criar um novo tipo de computação, as revistas científicas acharam a ideia revolucionária demais e simplesmente se recusaram a publicar suas ideias, até então apenas teóricas.
"Um revisor disse: 'Quem seria louco o suficiente para tentar implementar isso?!' Então nós tivemos que fazê-lo nós mesmos, e agora provamos nossa proposta com dados experimentais," contou ela.
Encontrar o mínimo global
Berloff propõe fazer computação usando o que ela chama de "poeira mágica", quasipartículas que combinam luz e matéria, conhecidas como polaritons, e que estão na base de uma tecnologia emergente chamada plasmônica.
A ideia é usar os polaritons para que eles encham espaços vazios apontando diretamente para a solução mais simples para os problemas mais complexos. As previsões indicam que esse tipo de computação irá superar em velocidade e complexidade qualquer supercomputador atual e mesmo os futuros computadores quânticos.
Virtualmente toda a computação que fazemos hoje - da modelagem do dobramento de proteínas até o comportamento dos mercados financeiros, a concepção de novos materiais e o envio de missões totalmente automatizadas para o espaço profundo - depende da nossa capacidade de encontrar a solução ideal para a formulação matemática de um problema: o número mínimo absoluto de passos que leva para resolver esse problema.
O que a professora Berloff percebeu é que a busca de uma solução matemática ideal é análoga à procura do ponto mais baixo em um terreno montanhoso com muitos vales, fossos e poços. Um andarilho pode descer uma colina e pensar que alcançou o ponto mais baixo de toda a paisagem, mas pode haver um vale mais profundo logo atrás da próxima montanha.
Se essa busca já parece um tanto assustadora em um terreno natural - "Quem seria louco o suficiente para tentar isto?", lembra-se? - imagine a complexidade quando se considera um espaço de várias dimensões. "Este é exatamente o problema com que temos que lidar quando a função que queremos minimizar representa um problema da vida real com muitas incógnitas, parâmetros e restrições," explicou Berloff.
Mesmo um computador quântico, quando construído, oferecerá, na melhor das hipóteses, a aceleração quadrática para a busca do mínimo global por meio de uma abordagem do tipo "força bruta". Os supercomputadores modernos só conseguem lidar com um pequeno subconjunto desses problemas, quando a dimensão da função a ser minimizada é pequena ou quando a estrutura subjacente ao problema permite encontrar a solução ideal rapidamente mesmo para uma função de grande dimensionalidade.
Os polaritons usados como "poeira mágica" são a base de um outro estado da matéria conhecido como luz superfluida. [Imagem: Polytechnique Montreal]
Computação com poeira mágica
Berloff e seus colegas encararam esse problema de um ângulo inesperado: E se, em vez de andar por todo o terreno montanhoso em busca do ponto mais baixo, você encher a paisagem com uma poeira mágica que tenha a propriedade de só brilhar no nível mais profundo? Pronto, a solução aparecerá na hora de forma muito rápida.
Eles criaram a poeira mágica de polaritons disparando um laser sobre camadas empilhadas de átomos selecionados, como gálio, arsênio, índio e alumínio. Os elétrons nessas camadas absorvem e emitem luz de uma cor específica. Os polaritons são dez mil vezes mais leves do que os elétrons e podem atingir densidades suficientes para formar um estado da matéria conhecido como condensado de Bose-Einstein, no qual as fases quânticas dos polaritons se sincronizam, criando um único objeto quântico macroscópico que pode ser detectado através de medições de fotoluminescência - veja mais detalhes na pesquisa anterior do grupo que demonstrou as quasipartículas que tornam a mecânica quântica visível a olho nu.
Faltava então o passo essencial: criar uma paisagem que corresponda à função a minimizar e forçar a poeira mágica a se condensar no seu ponto mais baixo.
Para fazer isso, o grupo se concentrou em um tipo particular de problema de otimização, mas um tipo que é genérico o suficiente para que qualquer outro problema difícil possa ser simulado. Esse problema é a chamada minimização do modelo XY, que é um dos modelos mais fundamentais da mecânica estatística.
A equipe então criou polaritons nos vértices de um grafo arbitrário. À medida que os polaritons se condensam, suas fases quânticas se organizam em uma configuração que corresponde ao mínimo absoluto da função.
Com essa demonstração prática, o revisor achou que a equipe não era tão maluca assim e o artigo científico foi levado a sério e publicado.
"Estamos apenas no início da exploração do potencial dos grafos de polaritons para resolver problemas complexos," disse professor Pavlos Lagoudakis, coautor do trabalho e responsável pelos experimentos. "Agora estamos expandindo nosso dispositivo para centenas de nós, enquanto testamos seu poder computacional fundamental. O objetivo final é [construir] um simulador quântico em um microchip que funcione em condições ambientais".
Bibliografia:
Realizing the classical XY Hamiltonian in polariton simulators
Natalia G. Berloff, Matteo Silva, Kirill Kalinin, Alexis Askitopoulos, Julian D. Töpfer, Pasquale Cilibrizzi, Wolfgang Langbein, Pavlos G. Lagoudakis
Nature Materials
DOI: 10.1038/nmat4971
Realizing the classical XY Hamiltonian in polariton simulators
Natalia G. Berloff, Matteo Silva, Kirill Kalinin, Alexis Askitopoulos, Julian D. Töpfer, Pasquale Cilibrizzi, Wolfgang Langbein, Pavlos G. Lagoudakis
Nature Materials
DOI: 10.1038/nmat4971
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