Os usuários "abanam" os cursores 3D como se eles fossem redes de pegar borboletas. [Imagem: Hybridlab, Université de Montréal]
Cursor 3D
Pesquisadores da Universidade de Montreal, no Canadá, desenvolveram uma técnica que permite que os cursores de computador interajam em ambientes 3D, tanto locais quanto em sistemas colaborativos multiusuários.
Hoje, para manipular um objeto 3D na tela, o usuário tangencia o objeto no plano 2D de sua tela para fazê-lo rodar e, então, alcançar a porção a ser manipulada.
O novo cursor 3D "mergulha" na cena, tornando-se parte integrante do ambiente tridimensional.
"Nossa nova tecnologia questiona a noção do que é um cursor e o que ele faz. O cursor se torna um plano de desenho e de controle," disse o professor Tomás Dorta.
A demonstração do sistema, feita durante a conferência SIGGRAPH 2015, usa um tablet para controlar o cursor 3D, mas a equipe afirma que ele não necessariamente precisa de um aparelho externo para controlar o movimento do usuário.
"Nós usamos uma analogia com uma rede de borboletas para explicar como o cursor seleciona os objetos no espaço - os usuários simplesmente 'abanam' os cursores 3D. Para manipular os objetos, os usuários podem usar gestos e movimentos, tais como beliscar ou apontar," disse o professor Dorta.
Processo criativo
O sistema foi demonstrado dentro de uma caverna digital, um ambiente imersivo no qual as imagens são resultado de uma ilusão óptica criada por um projetor de alta resolução, uma tela côncava de tecido e um domo espelhado, que pega a imagem do projetor e a joga na tela hemisférica.
"Além de sua utilidade para esboçar rascunhos, acreditamos que o cursor 3D tem aplicações em uma ampla gama de campos, tais como projetos arquitetônicos, imagens médicas e, claro, jogos de computador. Isto não é apenas um renascimento chamativo do cursor, é sobre repensar como os humanos interagem com os computadores como parte do processo criativo," disse Dorta.
Bibliografia:
3D cursor: unfolding a natural interaction model for remote and local co-design in VR. Tomas Dorta, Gokce Kinayoglu, Michael Hoffmann SIGGRAPH 2015 Proceedings Vol.: 43, 1 pages DOI: 10.1145/2785585.2785586 http://doi.acm.org/10.1145/2785585.2785586
Seonil Kwon, do instituto KAIST, na Coreia do Sul, descobriu que fabricar um LED em forma de fibra pode ser tão simples quanto mergulhar a fibra na solução adequada.
A essência da técnica é um conhecido processo industrial, chamado revestimento por imersão (dip coating). A fibra é mergulhada na solução, que se deposita para formar camadas de materiais orgânicos que dão origem aos LEDs.
O controle preciso da deposição das camadas gerou LEDs de alta luminosidade, muito superior à de outros LEDs flexíveis.
Kwon testou a criação dos LEDs orgânicos em várias estruturas, mas os cilindros se mostraram particularmente bons para o trabalho, permitindo ajustar a espessura da camada de revestimento com precisão nanométrica.
Telas tecidas
A equipe afirma que esta tecnologia poderá acelerar a comercialização doscomputadores de vestir e outros dispositivos incorporados nas roupas.
Por se tratar de um processo já conhecido, os dispositivos eletrônicos poderão ser criados no sistema rolo a rolo, de alta velocidade, e em materiais que vão das fibras individuais às folhas flexíveis de plástico e até metal.
A grande expectativa é que essas fibras possam ser tecidas para a criação de telas flexíveis em roupas e outros materiais moles - os fabricantes de materiais esportivos e camisas para jogadores e atletas certamente irão adorar.
"Nossa pesquisa vai se tornar a tecnologia central no desenvolvimento de diodos emissores de luz sobre fibras, que são elementos fundamentais dos tecidos. Esperamos conseguir baixar a barreira de entrada no mercado das telas de vestir," disse o professor Kyung Choi, coordenador da equipe.
High Luminance Fiber-Based Polymer Light-Emitting Devices by a Dip-Coating Method Seonil Kwon, Woohyun Kim, Hyuncheol Kim, Seungyeop Choi, Byoung-Cheul Park, Sin-Hyeok Kang, Kyung Cheol Choi Advanced Electronic Materials Vol.: Article first published onlin DOI: 10.1002/aelm.201500103
O aparelho usado no experimento é incrivelmente simples: a pressão extrema é conseguida apertando-se os parafusos da bigorna, enquanto a amostra estudada fica comprimida entre dois diamantes superpolidos.[Imagem: Thomas Hartmann/MPIC]
Supercondutor quente
Em alguns campos, pesquisas exaustivas parecem se arrastar por anos sem que nada de muito significativo, ou realmente radical, apareça.
Até que, de repente, tudo parece acontecer ao mesmo tempo, com novidades a todo instante, pulando como pipocas da panela.
É o que está acontecendo agora no campo da supercondutividade.
Agora, uma equipe alemã, trabalhando em uma frente completamente diferente, descobriu como fazer que um material comum e malcheiroso fique supercondutor a apenas -70º C - alguns até poderiam argumentar que isto já é temperatura ambiente, ainda que na Antártica.
O recorde anterior para um "supercondutor de alta temperatura" era -110º C, mas sempre envolvendo cerâmicas complexas, difíceis de obter e caracterizar, o que tem feito com que muitos comecem a duvidar das atuais teorias que tentam explicar a supercondutividade. Para a "supercondutividade convencional", com materiais não complexos, o recorde de temperatura continuava na casa dos -234º C.
Gás vira metal, que vira supercondutor
Alexander Drozdov e Mikhail Eremets, do Instituto Max Planck de Química, na Alemanha, trabalharam com um material simples e muito comum, o sulfeto de hidrogênio (H2S), o gás responsável pelo malcheiro dos ovos podres.
Eles comprimiram o gás em uma bigorna de diamante até 1,6 milhão de vezes a pressão atmosférica, o suficiente para vê-lo transformar-se em um metal, e viram sua resistência à passagem da corrente elétrica desaparecer a meros 203,5 kelvin, cerca de -70º C.
Os químicos acreditam que a passagem do H2S para H3S é crucial para o surgimento da supercondutividade. [Imagem: Defang Duan et al. - 10.1038/srep06968]
Supercondutores a temperatura ambiente
O experimento gerou uma nova onda de entusiasmo na comunidade científica em busca da supercondutividade a temperatura ambiente, sobretudo porque, há menos de um ano, um grupo de físicos chineses desenvolveu um novo modelo teórico que previa que o H2S poderia se tornar supercondutor a até -69º C quando, sob alta pressão, ele sofre uma transição para H3S.
E, neste campo, novos entendimentos sobre qual seria o gatilho que dispara a supercondutividade podem levar à busca por outros compostos que possam apresentar o mesmo comportamento em temperaturas cada vez mais altas.
"Não há limite teórico para a temperatura de transição dos supercondutores convencionais, e nossos experimentos dão-nos razões para termos esperança de que a supercondutividade pode até mesmo ocorrer a temperatura ambiente," disse Eremets.
Enquanto os teóricos se debatem com os modelos e a interpretação dos novos dados, os experimentalistas vão continuar comprimindo outros materiais isolantes em busca de materiais que se livrem da resistência elétrica a temperaturas cada vez mais distantes da Antártica, rumo ao Equador, indicando que novas pipocas poderão pular da panela nos próximos meses.
Bibliografia:
Conventional superconductivity at 203 kelvin at high pressures in the sulfur hydride system Alexander P. Drozdov, Mikhail I. Eremets, I. A. Troyan, V. Ksenofontov, S. I. Shylin Nature Physics Vol.: Published online DOI: 10.1038/nature14964
Pressure-induced metallization of dense (H2S)2H2 with high-Tc superconductivity Defang Duan, Yunxian Liu, Fubo Tian, Da Li, Xiaoli Huang, Zhonglong Zhao, Hongyu Yu, Bingbing Liu, Wenjing Tian, Tian Cui Nature Scientific Reports Vol.: 4, Article number: 6968 DOI: 10.1038/srep06968
Corrente contínua pode ser convertida em radiação terahertz
Redação do Site Inovação Tecnológica - 13/08/2015
A radiação terahertz - entre as micro-ondas e o infravermelho - tem inúmeras possibilidades de aplicação tecnológica. [Imagem: Godfrey Gumbs et al. - 10.1063/1.4927101]
Radiação terahertz
A radiação terahertz é uma das grandes promessas ainda não cumpridas da tecnologia deste início de século.
Por ser uma radiação não-ionizante, ela pode aposentar de vez os raios X, e com muitas vantagens, sendo capaz de identificar tecidos de diferentes consistências no interior do corpo humano - incluindo tumores.
O problema é que é difícil gerar e captar ondas nessa faixa de frequências, que fica entre as micro-ondas e o infravermelho.
A boa notícia é que os progressos continuam.
Corrente contínua em terahertz
Godfrey Gumbs e seus colegas da Universidade Cidade de Nova Iorque idealizaram um dispositivo que permite converter uma corrente contínua, como a armazenada em baterias, em uma fonte ajustável de radiação terahertz.
O dispositivo é baseado nos plásmons de superfície, ondas de elétrons que se formam na superfície dos metais.
Para cobrir o hiato das ondas terahertz, Gumbs idealizou um semicondutor híbrido: uma camada mais grossa de um material eletricamente condutor envolvida por duas camadas muito finas, que podem ser de grafeno, siliceno, ou mesmo de um gás.
Quando a corrente contínua passa através desse sanduíche, ela cria uma ressonância plasmônica com um comprimento de onda muito específico, que induz a emissão da radiação terahertz, que pode então ser "coletada" por uma antena em forma de grade.
Ajustando os vários parâmetros, como a densidade do semicondutor híbrido ou da corrente contínua aplicada, é possível ajustar o comprimento de onda, ou seja, a frequência da radiação terahertz produzida.
"Nossa abordagem baseada em semicondutores híbridos pode ser generalizada para incluir outros materiais bidimensionais emergentes, tais como o nitreto de boro hexagonal, a molibdenita e o disseleneto de tungstênio," disse o professor Andrii Iurov, coordenador da equipe.
Bibliografia:
Tunable surface plasmon instability leading to emission of radiation Godfrey Gumbs, Andrii Iurov, Danhong Huang, Wei Pan Journal of Applied Physics Vol.: 118, 054303 DOI: 10.1063/1.4927101
Fosforeno vira transístor positivo ou negativo sem dopagem
Redação do Site Inovação Tecnológica - 10/08/2015
Os transistores de fosforeno têm seu comportamento elétrico determinado pela espessura do material. [Imagem: IBS]
Fósforo negro
Já imaginou ter um computador com um processador de fósforo, viver em uma Era do Fósforo e eventualmente até trabalhar em um Vale do Fósforo?
Todo esse entusiasmo está vindo de algumas equipes que estão trabalhando com o fosforeno, ou fósforo negro, um material monoatômico como o grafeno e que começou a mostrar seu potencial há pouco mais de um ano.
Esse potencial agora se mostrou ainda maior do que o esperado, conforme relata uma equipe da Universidade Sungkyunkwan, na Coreia do Sul.
Ambipolar
Os transistores que formam todos os circuitos eletrônicos precisam ser fabricados em dois tipos: positivo e negativo. Isto exige o uso de materiais semicondutores com excesso de elétrons (tipo n) ou com excesso de lacunas (tipo p).
Para dar esse aspecto positivo ou negativo ao semicondutor é necessário que o silício seja dopado, ou seja, receba pequenas quantidades de outros elementos.
O que se descobriu agora é que o fosforeno é ambipolar, podendo funcionar como tipo p ou como tipo n, sem a necessidade de adição de elementos dopantes.
A equipe fabricou transistores de fosforeno do tipo p e do tipo n variando apenas a espessura do material e os contatos metálicos usados para ligar os transistores ao circuito.
Entusiasmo
Mas talvez os cientistas tenham-se deixado levar pelo entusiasmo.
Embora a ambipolaridade e a alta mobilidade dos elétrons apresentadas pelo fosforeno coloquem o material como um substituto em potencial para o silício, o material monoatômico sofre dos mesmos problemas que os demais materiais bidimensionais: é muito difícil fabricá-lo mesmo em quantidades para uso em laboratório. Em escala industrial, então, é um sonho distante.
Bibliografia:
High performance n-type black phosphorus transistors with type control via thickness and contact-metal engineering David J. Perello, Sanghoon Chae, Seunghyun Song, Young Hee Lee Nature Communications Vol.: 6, Article number: 7809 DOI: 10.1038/ncomms8809
Óculos de realidade virtual sem dor de cabeça e sem enjoo
Redação do Site Inovação Tecnológica - 07/08/2015
Duas telas sobrepostas para cada olho geram uma imagem natural e com profundidade de campo. [Imagem: Universidade de Stanford/Divulgação]
3D sem náuseas
Os óculos de realidade virtual causam uma ótima primeira impressão, mas basta ficar um pouco com eles para que a maioria das pessoas termine com dor de cabeça ou com o estômago enjoado.
Fu-Chung Huang, da Universidade de Stanford, acredita ter encontrado a solução para salvar a primeira impressão desses equipamentos tão promissores.
Ele desenvolveu o que chama de "tecnologia de campo de luz" para criar uma visualização 3D mais natural e confortável.
Vergência
Nos óculos de realidade virtual 3D atuais, cada olho vê apenas uma imagem. A profundidade de campo também é limitada, já que o olho é forçado a focar em um único plano.
No mundo real, nós vemos perspectivas ligeiramente diferentes da mesma cena 3D em diferentes posições na pupila de cada um dos nossos olhos.
Quando você olha através dos óculos 3D, há um conflito entre as informações visuais que seus olhos captam e como o seu cérebro combina o que os olhos estão vendo - a chamada vergência. É esse conflito que lhe dá dor de cabeça ou lhe revira o estômago.
Esquema de construção dos óculos de realidade virtual 3D com tecnologia de campo de luz. [Imagem: Universidade de Stanford/Divulgação]
Hologramas
Huang resolveu esse problema criando uma espécie de holograma para cada olho. Um campo de luz cria múltiplas perspectivas ligeiramente diferentes ao longo de cada pupila, reproduzindo melhor o que acontece com nossa visão natural.
O resultado é que se pode mover o foco e ajustar a profundidade de campo em cada cena virtual.
Isto é possível porque os novos óculos de realidade virtual 3D incorporam duas telas LCD transparentes e superpostas, ligeiramente espaçadas uma da outra.
"Você tem uma janela virtual ideal, parecida com o mundo real, onde hoje você tem basicamente uma tela 2D na frente de cada olho," explica o professor Gordon Wetzstein, coordenador da equipe.
O protótipo foi construído com o apoio da NVidia, o que traz esperanças de que a tecnologia possa chegar rapidamente ao mercado.
Acredite se quiser, mas uma das profissões do momento nos Estados Unidos é a de caminhoneiro. Com base em dados do Censo americano, o site da National Public Radio (NPR), a rede pública de rádios do país, mostra que se trata do emprego mais popular em 29 Estados americanos.
Isso não quer dizer que dirigir caminhões seja uma carreira disputada. Sua popularidade está apenas no fato de ter vagas disponíveis e pagar um salário decente.
Diferentemente de inúmeras profissões que decaíram nos últimos anos, o serviço como caminhoneiro se manteve imune às forças que eliminaram vários postos de trabalho.
Nas últimas décadas, computadores e máquinas automáticas substituíram secretárias, bancários, frentistas, caixas de supermercados e tantas outras profissões. Mas as entregas de bens ainda não podem ser feitas por um prestador de serviços em outro país, e os trajetos de longa distância ainda não foram automatizados.
Mesmo assim, os caminhoneiros podem ser os próximos na lista de empregos sob risco de extinção. Empresas como Google, Uber e Tesla estão desenvolvendo veículos sem motorista, começando justamente por protótipos capazes de cumprir viagens longas.
Se conseguirem automatizar as entregas, isso não seria apenas uma benesse para as empresas distribuidoras, mas também para a segurança nas estradas – apenas nos Estados Unidos, até 4 mil pessoas morrem a cada ano em acidentes envolvendo grandes caminhões (com a culpa quase sempre atribuída a um erro do condutor).
Mas caminhões que dirigem sozinhos não seriam bem-vindos em todas as áreas. Alguns críticos do conceito ressaltam que o fim dos caminhoneiros teria um efeito dominó sobre outros empregos.
Nos Estados Unidos, até 3,5 milhões de motoristas e 5,2 milhões de pessoas que atuam diretamente no setor de distribuição e entregas ficariam desempregadas. Além disso, as inúmeras paradas localizadas nas principais rotas rodoviárias poderiam ficar abandonadas.
Ou seja, os caminhões autoconduzíveis poderão arruinar milhões de vidas e trazer consequências desastrosas para um setor significativo da economia.
Futuro sombrio
Esse tipo de alerta sombrio costuma ser emitido com frequência, não apenas na indústria da distribuição, mas também em várias outras áreas da força de trabalho mundial.
Conforme máquinas, softwares e robôs vão se tornando mais sofisticados, alguns especialistas temem que estejamos à beira de perder milhões de empregos.
Segundo um estudo recente feito por analistas da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, a próxima onda de avanços tecnológicos vai colocar em risco até 47% de todos os empregos dos Estados Unidos.
Mas será que essas projeções são verdadeiras? E se forem, devemos nos preocupar? Se os robôs tomarem nossos lugares, vamos virar preguiçosos profissionais, como retratado no filme Wall-E? Ou será que as inovações tecnológicas nos darão mais liberdade para ir atrás de empreitadas mais criativas e compensadoras?
A mão que alimenta
Para podermos responder a essas perguntas, devemos reconhecer que a tecnologia, a inovação e a mudança das normais culturais sempre alimentaram a rotatividade da força de trabalho.
As máquinas vêm tomando nossos empregos há séculos. "As economias de mercado nunca ficam paradas", afirma David Autor, professor de economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). "As indústrias vivem ascensões e quedas, os produtos e serviços mudam – e isso vem acontecendo há muito tempo."
No passado, enquanto algumas profissões desapareceram, outras surgiram. Habilidades artesanais, que eram um grande trunfo para um trabalhador do século 18, foram substituídas pelo know-how da produção industrial, com o advento da manufatura de larga escala no século 19. Mas na década de 1980, muitas das tarefas feitas por pessoas durante a Revolução Industrial já eram executadas por máquinas.
De maneira geral, essas mudanças trouxeram resultados mais positivos do que negativos para a sociedade. "A automação nos deu mais tempo, e conseguimos realizar mais coisas", diz Autor.
As máquinas de lavar transformaram uma tarefa de horas em algo que pode ser feito com um simples apertar de botão; ferramentas elétricas tornaram a construção civil mais eficiente; e computadores eliminaram trabalhosos cálculos e escritas. Houve uma melhora na qualidade de vida e na segurança das pessoas. "Deveríamos ficar felizes que muitos desses empregos desapareceram", afirma Carl Frey, um dos autores do estudo feito pela Universidade de Oxford.
Ritmo acelerado
Mas, em comparação com o passado, o ritmo com que as transformações no mercado de trabalho ocorrem hoje é muito mais acelerado. Com a possível exceção da Revolução Industrial, nunca assistimos a uma mudança tão rápida na sociedade e na economia.
E, apesar de ser cedo para confirmarmos, os números indicam que o mercado de trabalho não está evoluindo rápido o suficiente para acompanhar essas mudanças. A relação entre postos de trabalho e a população geral tem caído nos países desenvolvidos, independentemente da crise econômica mundial que começou em 2008.
"Acredito que isso mostra que a economia digital não criou muitos empregos diretos, e os empregos criados tendem a se concentrar em grandes cidades", afirma Frey. "Isso faz os preços aumentarem, cria desigualdades e impede que as pessoas morem ou se mudem para os lugares onde esses empregos estão surgindo."
Conforme alguns trabalhos começaram a marchar rumo à extinção, muitas pessoas que costumavam executá-los – agentes de viagens, telefonistas, técnicos de laboratório fotográfico, gráficos etc. – acabaram migrando para profissões que pagam menos – como garçons, faxineiros, jardineiros e outros – porque não tinham a formação necessária para ir para empregos da camada econômica equivalente.
"Há uma enorme mudança nas habilidades necessárias hoje no mercado de trabalho, mas ela não se reflete no nosso sistema educacional", explica Alison Sander, diretora do braço de análises para o futuro do Boston Consulting Group.
Autor concorda: "De fato, há uma demanda cada vez maior por trabalhadores com formação superior e uma série de habilidades refinadas, mas uma queda vertiginosa na necessidade de pessoal com educação média".
Isso significa que uma enorme parcela da população que, nas últimas décadas, tinha um padrão de vida elevado, hoje já não pode mantê-lo.
E o problema só deve se intensificar nos próximos anos, à medida em que trabalhos que envolvam rotinas ou tarefas repetitivas mentais ou físicas têm mais chances de serem eliminados pela automação.
Empregos do futuro
Na lista de carreiras ameaçadas estão os atendentes de lanchonetes, caixas, operadores de telemarketing, contadores, garçons e até jornalistas.
Além disso, empregos que antes eram mais desafiadores e precisavam de uma alta especialização podem ser tornar comuns por causa da automação, como já ocorre, por exemplo, em certos setores da medicina, como a radiologia.
Mas a automação não necessariamente significa a ruína de vários outros setores. Enquanto houver tarefas que exijam algum nível de envolvimento humano, ainda há espaço para pessoas de carne e osso.
Quando a ferramenta de busca do Google começou a decolar, há pouco mais de uma década, por exemplo, houve o medo de que bibliotecários se tornariam seres obsoletos. Em vez disso, aumentou o número de vagas nessa carreira, exigindo novas habilidades. "Se uma máquina pode substituir um ser humano completamente, aquela pessoa é supérflua. Mas se essa pessoa puder gerenciar aquela máquina, ela se torna mais valiosa", explica Autor.
Junta-se a isso o fato de que máquinas e softwares muito provavelmente jamais poderão substituir certos empregos. Até hoje, o homem é muito superior em qualquer trabalho que envolva criatividade, empreendedorismo, habilidades interpessoais e inteligência emocional.
As carreiras que precisam delas? Clérigos, enfermeiros, palestrantes motivacionais, cuidadores, treinadores esportivos, artistas – todos com muitas chances de se dar bem em um mundo mais automatizado.
E mesmo que restaurantes comecem a usar tablets nas mesas para preparar os pedidos e robôs venham servir a comida, a sociedade pode não querer adotar essas mudanças. É possível que continuemos a querer que outros seres humanos venham a nossas mesas ou dirijam nossos táxis.
Este é um fenômeno que reflete na recente reaparição de artesões nos grandes centros urbanos do planeta. Hoje, há um mercado cada vez maior para móveis e outros objetos feitos à mão, para alimentos caseiros e com um toque pessoal, e por tantas outras artes e serviços. E isso significa também o surgimento de empregos digitais para ajudar a aumentar a venda desses produtos.
Exemplos de compensações
A realidade é que para cada carreira que a tecnologia elimina, sempre haverá uma onda de novos caminhos profissionais a serem explorados e criados. Assim como alguns dos empregos de hoje – gerente de mídias sociais, designer de aplicativos, diretor de impacto ambiental – teriam sido inimagináveis em 1995, não podemos prever que novos tipos de trabalho surgirão no futuro.
Mas conseguimos imaginar com base em números e tendências. Sander prevê um futuro onde conselheiros genéticos, biobanqueiros, autores de realidade aumentada, especialistas em antienvelhecimento e experts em mitigação de desastres naturais urbanos poderão ocupar os lugares mais quentes da economia, assim como outras profissões que decorrerão da concentração cada vez maior de pessoas nas grandes cidades.
Ao mesmo tempo, não devemos assumir que a economia vai se ajustar às mudanças. Não há garantias de que tudo funcione bem no futuro. Para tornar a transição o menos dolorida possível, precisamos ser proativos em assegurar que a destruição de certas carreiras seja feita com a provisão adequada para aqueles que perderem seu papel na sociedade.
"Se conseguirmos criar recursos sem uma grande demanda de mão de obra, o problema terá que ser: 'temos muita riqueza – como vamos distribuí-la?'", diz Autor.
Opções socialmente responsáveis podem incluir um apoio melhor para aqueles que estão temporariamente desempregados e treinamento acessível para ajudá-los a mudar para um novo setor.
Alguns países, setores e empresas estão respondendo melhor a essas mudanças do que outros. Para Sanders, de um lado, há organismos reguladores rígidos que podem impedir a inovação, como a recente proibição do Uber na França, por exemplo. Por outro, há o caso da Alemanha, onde 1,5 milhão de pessoas se matriculam em cursos preparatórios remunerados a cada ano, saindo deles com alta formação para atuar em áreas técnicas.
Hoje, mais de 4 mil empresas em todo o mundo montaram seus próprios centros de formação e treinamento. Outras companhias estão tentando mudar sua demografia para evitar a perda de empregos. A BMW, por exemplo, está modificando suas fábricas para atender às necessidades de seus funcionários mais velhos, em vez de obrigá-los a se aposentar.
No entanto, pode até ser que um dia as máquinas e a inteligência artificial tomem o lugar de seres humanos em várias áreas. Isso não é algo necessariamente ruim, especialmente se isso levar a um aumento da riqueza e do bem estar de todos.